Memories

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."

O vazio e o Eu, em sua forma definida

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 13:20:00

Desde os tempos mais remotos, sempre houve esta calma sensação de um vazio imenso. Como se todo o universo estivesse dentro do corpo, a envolver a alma e o íntimo – e, de fato, ele está. São todos os seres viventes, pequenos universos.



É um vazio que parece não poder ser preenchido; porém que nos preenche a mente e o coração com diversos sentimentos adversos. Sentir-se vazio pode ser sentir-se grandioso – ou não. Depende, com exclusividade, de cada qual. Pode ser que ajude na infindável busca por poder*... Poder, este, que deve servir ao seu propósito – ser o verdadeiro e único potencial de existência.



Para alcançar este poder e iniciar o preenchimento do vazio, é preciso, primeiramente, libertar-se do Eu – ego. O indivíduo que se julgue superior será infinitamente inferior. E, qual não se julgar inferior, tampouco superior, será sempre digno de receber a dádiva do saber. É preciso acreditar em si mesmo. O conhecimento é o caminho para a sabedoria. Por isto, libertar-se do ego e conhecer-se a si mesmo é um caminho a ser trilhado solitariamente. Com seu findar, o laurel é...



(...)



* não é poder em sua forma conhecida atualmente, nem de qualquer outra forma que possua tradução direta.


Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 12:29:00



Sinto-me possuído por sua inocência... Seus sorrisos esboçados, a imagem dos seus lábios junto aos meus fazem-me sentir alegria e, ao mesmo tempo, paz sem igual.. Seus olhos traduzem a pureza, suas palavras proferidas são odes de amor..
Somente ao seu lado é que posso ser-me.


Ela – Beija-me uma vez mais.
Eu – Não posso...
Ela – Por que não?
Eu – Eu a amo como o último poeta para além dos mares, e tu me és absolutamente tudo; outros intentos não possuo senão o de fazê-la feliz sendo feliz – embora isto possa parecer egoísmo, não o é: sei, hoje, que não é preciso mais que minha felicidade para que tu sejas feliz, e a tua felicidade para que eu o seja também.. Mas, para estarmos juntos, seria necessário que soubesses-me um segredo de horror indizível...

Ela – Não importa! Todos os teus horrores não me retirariam os amores. Eu amo-te exatamente assim como és. Sou carente de ti.


O silêncio paira como uma densa sombra de enorme pesar. Adoro lê-la nas entrelinhas desta quietude profunda... Meu pequeno anjo.


(...)


Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 11:23:00

É uma noite chuvosa. Sinto-me enclausurado dentro desta alcova escura - há apenas uma pouca iluminação emanescente de velas acesas nos candelabros. Papiros amassados, tinteiros, nanquim derramado ao chão de pedras rústicas constituem a desordem deste quarto: este possui a qualidade do mais simples, porém profundo, caos. Uma certa agitação, quase que vulgar, apossa-se de mim como um demônio a apossar-se d'uma humana alma em farrapos. Apesar de trivial, esta agitação incomoda-me piegas. Há em mim o sentir de uma indizível angústia.

Estou à janela, observando a chuva incessante na lamuriosa tristeza dos céus, e a ouvir do trovoar a imponente voz. Clarões de luz - raios - lançam-se desesperadamente ao solo enlameado, como se quisessem adentrar, esconder-se, tornar-se uno com a terra molhada - um dos princípios cabais. Como a criação de um anjo à feição do homem: da argila e luz será feito, modelado pela força da tempestade... Deixando ao lado os devaneios, percebo que este meu sentir, não mais raro em mim - ao contrário: tornou-se de uma freqüência tal que me muito surpreende -, dilata-se, se faz deveras maior. Está fraca a minh'alma: envolve-me inteiramenta a ancestral angústia. Chora em lágrimas de cor escarlate o coração meu. Pesa-me sobre a carcaça - invólucro que à verdadeira e pura essência reveste - o entendimento, ou seu oposto, de muitas coisas. Conhecer-se à si mesmo, meu querido Sócrates, pode ser o princípio causal de lançar-se em direção ao indefinido, não é mesmo, Nietzsche? Estas duas máximas descrevem-me com magnífica exatidão neste momento. E é num momento de repentina consciência que percebo ter-me lançado ao desconhecido.

[...]

Estou maltrapilho com minhas roupas rasgadas, a caminhar com meus pés descalços; os longos cabelos negros soltos, desgrenhados, dançam conforme o vento; meus olhos estão vidrados em direção à lua, escondida esta por detrás de densa camada de nuvens derretidas. Do lado de fora da casa, caminho sem saber aonde ir, qual orientação seguir - e os caminhos são apenas dois, escolha árdua para uma alma como a minha, nesse momento, está: de um lado, vê-se coisas belas escondendo dentro de si o mal; d'outro, coisas horrendas, realmente medonhas, no entanto com natureza essencial mais bela que a visão dos olhos externos pode perceber. É como o meu devaneio de há minutos atrás: um anjo de luz disfarçado pela escuridão e pútrida camada de lama. Bem, quê importa? Está em estado terminal a vida minha. Sinto-a findar-se. Quero, em verdade, que se finde. Embora pouco perceptível a quem pudesse observar-me, aquela mesma angústia misturou-se à um desespero indescrítivel.

[...]

Caem-me sobre os olhos abertos grossos pingos de chuva, machucando-os. Com um grito, desfaleço. Caio ao chão em poças de lama. Envolve-me a água suja. Os pensamentos meus, agora, voltam-se para um passado não muito longínqüo, embora pareça datado de há séculos, éons... em qual pude ser eu mesmo sem importar-me - eu era, como jamais poderei tornar a dizer que sou, jovem e alegre. Batia-me à porta do coração, o tempo inteiro na infinita continuidade deste, a felicidade. Lágrimas com gosto de ferrugem começam a escorrer de meus olhos lastimosos, e eu, num impasse ímpar, impensado - ou feito por meu inconsciente sombrio -, cravo profundamente minhas grandes unhas na carne de minha perna. É um doloroso sentimento de prazer e libertação. Finco-as inda mais. O sangue vertente escorre, até se juntar à lama. E esta adquire a qualidade de cor rubra, em qual, refletido, posso ver-me a outra face: o que vejo, ao mesmo tempo em que assombra-me e me faz quase desmaiar, causa em mim a sensibilidade de que não estou - e jamais estarei só.

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 00:04:00
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“os corpos juntam-se num sensualismo incandescente... meias palavras proferidas à meio tom, entre sussurros... o mundo neste momento nada mais é que sensibilidade... em seu próprio espaço perdidamente apaixonados, doudos, amando-se de modo adorável...”

deitados, lado a lado, ela com sua perna sobre o corpo dele
- ele com seu braço sobre o dela -,
olhando-se, confessando-se segredos mútuos
de uma era que não esta, distante... para muito além
do tempo e espaço compreendidos pela humana alma...

almas...


juntas, ardentes, enamoradas...



princípios vitais: amantes - um junto ao outro,
vazio se sem alguém..

o amor aflorando como jasmins,
talvez girassóis que abrem-se para a luz e o entendimento...
um perfume delicado,
sentido somente por quem sabe amar...

mas, oh, não basta saber... é preciso prática...


esquecer-se,
doar-se inteiramente..
dois corpos unificando-se em um..

logos metafísica do caos..

sim, ser a própria razão de se haver uma razão...
o princípio causador..

“a noite é dia se está-se presente”,
e o dia é noite quando a ausência fala em silêncios...

sentir no âmago de todas as cousas...
epicentro de todo o universo


[.]


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Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 13:35:00



É uma noite quente, e...

Eis que o banquete dos mortos irá começar!
Saem de suas tumbas - rotos, poeirentos,
Cabelos velhos e grisalhos, órbitas monstruosas,
Pele esfacelada - outros sem pele...
Todos os reis de outrora!

Caminham asqueirosamente, arrastando-se;
Entram em choupanas velhas, porém habitadas,
Pela janela desleixadamente deixada aberta neste dia do ano,
E levam-nas...

Fazem um banquete espetacular para si:
Muito há para se comer.

Com o findar da antemanhã, já o dia a pouco se clarear,
Retornam aos esquifes amaldiçoados, os cadáveres malditos!
E despertam-se os vivos com gritos indizíveis de horror,
Pois, oh! Esqueceram-se da janela aberta...

E foram-lhes tiradas suas crianças...


Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 10:59:00

“O sonhar transporta-nos para dimensões para além da simples realidade em que vivemos... É este mesmo sonhar que me faz estar contigo, todo o tempo que quero, que posso, a eternidade...”


Enquanto estou imerso no universo dos sonhos, sinto, quase que fisicamente, calma e alegria de uma profundidade tal percorrerem cada átomo mínimo de meu corpo. Para onde quer que eu vá, lá ela está... Bela, com os olhos brandos, face angelical e suave - a mais bela de todas as ninfas! Dela me aproximo com vagarosos passos síncronos, minha mente e coração a palpitarem febrilmente por sua presença. São poucas as vezes que a vi, menos ainda as que pude ouvir sua voz, mas sinto que eu a amo... E este amor desespera-me ao tempo mesmo em que engrandece-me. Sinto como se pudesse transpor as galáxias todas em um único piscar de olhos. E, nos meus sonhos, tudo é muito belo e quimericamente real, muito apaixonante...

Mas... Quando desperto - abrem-se os meus olhos para a claridade do “mundo real” -, eu sinto tamanha tristeza, uma dor sem fim. O que posso fazer é, sempre, sempre, aguardar o momento de sonhar...


É preciso dizer que, muitas vezes, o sonhar rouba-me momentos quando estou desperto... O mesmo sonhO...

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 16:32:00
Está nublada a tarde - nuvens densas, o Sol por detrás delas escondido, uma luz difusa, mórbida a clarear a Terra; e, acima de tudo, está muito fria, de um modo delicioso. De cá, sentado no banco - em madeira belamente esculpido - desta praça, observo as pessoas em mais um de seus dias que são todos iguais. Umas passam apressadas; outras, distraídas. Deverão seguir uma rotina diária? Bem, quê importa? Se não a houver no tempo e espaço, há no âmago, na essência de todos os seres.

Espero a chegada de minh'amada: combinamos de cá nos encontrarmos para irmos juntos ao teatro. Ela está atrasada, mas tudo bem: perdoa-se, sempre, o atraso de quem se ama. Minutos depois, avisto-a a caminhar em minha direção. Como ela é bela! Se eu houvesse estado magoado por seu atraso, vislumbrá-la retira-me todo o sentimento antagônico. Ela me é a personificação da deusa do amor grega, Afrodite - e eu, um coração eternamente enamorado por si. Eu a amo muito.

Faltam-me palavras...


Queria falar de heróis. Da humanidade - e do humanismo. Em como uma pessoa pode ser importante para o mundo, caso ela se dedique a tal. Como os gênios revolucionários são necessários. Que os eruditos não passam de pessoas com maior nível cultural; mas, oh, os diletantes, estes sim deveriam receber o título major. Eruditos para além da simples erudição. Que crianças passam fome e morrem por isto, e nós nada fazemos - sequer um dedo movemos! - para isto mudar. Em o quanto somos insignificantes e tolos: o mundo nunca foi, não é e jamais será nosso. Querer controlar as forças da natureza, corrompendo-o, é um dos maiores erros da humanidade. De que nos vale o conforto se este não puder ser apreciado? Ou, se puder, se para alcançá-lo é necessário derrubar centenas de árvores, retirando assim o lar de muitos animais, muitos dos quais, por tal, fenecem? Como as pessoas podem ser tão egoístas? Até que ponto a materialidade pode corromper a essência de alguém, tornar à esta pessoa vil, reles? E quanto ao Brasil, este país de nível tecnológico em ascensão? Politicamente corrupto, dividido em classes desordenadas; de baixa cultura... Pessoas que só pensam em futebol - até matam e deixam morrer por isto! -, carros, mulheres/homens; jovens sem o mínimo de formação filosófica, que saem de noite e voltam para casa somente de manhã, com a propriedade odorífera do álcool, a vangloriarem-se por terem beijado tantas e tantos, ou algo congênere... um país em qual o que vale é a “casca” (beleza exterior) e não o fruto verdadeiro, a face a qual se dá aos tapas. A alma.
Às vezes, eu me canso disso tudo... Devo lhes confessar um segredo: gostaria de ter nascido alguns séculos atrás. Na época da caça às bruxas, talvez. Eu seria um ser caçado que lutaria até o fim, e, se morresse, seria gloriosamente. Mas, deveis vos estar a perguntar: qual a glória que há na morte? E eu vos digo: qual é o sentido de se viver se não for para mudar ao mundo? Uma pessoa que vive por si e para si morre sem ser notada... Mas, percebei, o importante não é ser notado: é ter feito a diferença para alguém. É como amantes de puro amor: vive-se para o bem do bem-amado. O que muda é: deve-se viver para o bem coletivo. É certo, não pode-se esquecer de si mesmo. Pensar em si pensando em outros, compreendeis? É isto o que eu, uma mente limitada - como todos nós, vós! -, penso a respeito de algumas coisas. Muito melhor seria se em nosso país, por exemplo, houvesse esta consciência. Mas, não, o “povo” gosta de ser feito fantoche dos magnatas... Ou de gritar injúrias assistindo aquele jogo de futebol. Sentem-se alegres ou felizes, sentem-se importantes assim. Oh, não é possível, eu devo ser de outro mundo... Quiçá de outro sistema intergalático...

Adieu... Tentarei continuar o texto outrora, e cá o hei-de postar. Mas é improvável... Quando paro, nunca dou continuidade a um texto. Senão quando reviro minha caixinha de Pandora.

Adieu, adieu!...

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 00:17:00

“O que sinto por ela é um escudo impenetrável, em qual o mal não poderá adentrar.
Sua presença é morna, me aquece inteiramente: meu coração agita-se, ledo...”



É noite. A Lua, de modo muito belo, reflete-se nas escuras águas do lago - é possível perceber até mesmo as nuvens de cor âmbar, devido à cor amarela meio cinzenta do astro noturno. Esquilos e animais da floresta retiram-se à suas tocas, enquanto outros - predadores notívagos - saem de suas. Corujas fazem-se ouvir, como em um coro das sombras. Uma névoa densa, quase impenetrável, espreita à beira das águas; sobe e chega próxima à esta velha choupana.

Minha amada está na cama, a descansar enquanto lê uma peça de Shakespeare. “Sonhos de uma noite de verão”. É inverno. Faz frio do lado de fora, e mesmo aqui dentro. Recostado em minha velha poltrona de madeira coberta por um forro macio, na sala de estar, próximo a lareira acesa, ao som de uma deliciosa melodia de Tchaikovsky, eu leio um fabuloso clássico do sobrenatural. Chama-se: “Schalken, o pintor”, de Joseph Sheridan Le Fanu. O autor escrevera-o majestosamente. O conto envolve-me de uma forma tal que não posso parar de o ler.

(...)

Passado algum tempo que estive a ler, minha adorada vem até mim, e diz, sua voz tão suave quanto as canções dos silfos: “Querido, vamos deitarmo-nos? Está tarde. Ou deverei dizer cedo?...” Eu fico a observá-la, vidrado, fascinado pelo modo como, a cada vez que a vejo, ela parece estar ainda mais bela, ainda mais apaixonante. Seu exterior, a matéria de qual todos os homens são feitos, parece ser um espelho impenetrável de sua alma. Sinto-me um homem fadado a ser eternamente feliz. Reis, é certo, moveriam guerras por esta única diva inspiradora, portadora de sem igual beleza.

“Querido, estás bem?”, interroga-me ela, achando estranho o modo como a observo, quieto. “Oh, sim, estou bem. Estava a divagar, apenas... Tu sabes o quanto eu lhe amo?” Mas como poderia ela saber? Ser nenhum, de dimensão ou universo, paralelo ou não, poderia. “Que pergunta esquisita, é claro que sim. Sempre mo dizes, sabes... Tu amas-me assim como eu te amo: para além das eras infindáveis. Nosso amor atravessa todas e quaisquer barreiras que poderão haver, e até mesmo as que ainda não existem. Somos amantes eternos, e na eternidade, como tal, habitaremos, juntos.”

Com os olhos rasos de lágrimas, quase imperceptíveis porém existentes, eu levanto-me suavemente. Pego-a pelas mãos, e, a olhá-la nos olhos, digo: “Eu te amo... Simplesmente.” E ela responde-me com um afago nos meus cabelos soltos e bagunçados. Quando toca minha pele, sinto “uma insustentável leveza do ser”, como se fosse transportado para o alto dos montes mais elevados, e estivesse próximo ao céu e as estrelas. Meigamente, aproximo meu rosto do seu. Beijo-a. Oh! Como são doces os seus beijos. Mel nenhum poder-se-ia à eles comparar. Seus lábios são lascivos, e ao mesmo tempo virtuosos... Beijá-la é adentrar ao paraíso sem sequer mover-se. Em seguida, abraçamo-nos. Ficamos abraçados por um tempo que nos é sempre a perpetuidade. Sinto o calor de seu corpo junto ao meu. Como é maravilhoso poder amá-la!

Ao sustentá-la em meus braços, caminho até nosso quarto, onde a ponho, carinhosamente, deitada na cama. Retorno em passos síncronos até as velas do outro lado do quarto, e, logo após, abro a janela, com a cortina a barrar a brisa gélida. Depois, caminho de volta para a cama, lentamente. Deito-me à seu lado. Observamo-nos à altura dos olhos. E ambos nós deixamos perceptíveis lágrimas derramarem-se-lhes. Eu a abraço; ela me abraça também. Beijo-a uma vez mais, enquanto deslizo brandamente minha mão por seu ombro. Deste momento adiante, iremos nos tornar uma só alma em corpos entrelaçados; expressão única do mais puro amor.