Memories

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 01:31:00


Corações feitos em brasa
Esvoaçam ao leve bater de asas da fênix,
Ressurgindo e imergindo das profundezas do ser
Para a realidade: ciclo vicioso
Do amante sôfrego.

E é este baque surdo da existência
Que propõe-lhe glória.
A inexistência da desistência é,
Em seu ser, presente,
Tal qual o é n'alma do guerreiro que,
Em campo de batalha,
Luta, bravamente, até a morte.

(...)


Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 00:10:00


Oh, mulher de beleza sem igual!
Permite-me uma última vez a face contemplar-te:
Dá-me a dádiva de tua pele poder tocar... Se
Hei-de perecer perante a fatal
Vislumbração de teus olhos cor-de-mel, não sei, não sei
- E não sei se quero saber! Quê importa?!

(ao que ela responde-lhe)

Beijar-me, meu ser adorado,
Levar-te-á a morte, sim. Tu irás conhecer
O inferno mais abismal de todos os infernos:
Sua própria essência.
Deixo à ti a decisão de sentir o sabor de meus doces beijos,
E ao mundo das trevas adentrar;
Ou não conhecê-los, e estares sempre livre
Do pior demônio que há.

(...)



Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 12:49:00

O Sol acaba de despertar de seu sono, e surge, vagarosamente, no horizonte... Muitas árvores cercam o velho chalé - ainda cobertas do orvalho matinal; ouço os pequenos animais da floresta despertar... Esquilos – amigos meus! - vêm até mim, e esperam que eu lhes dê suas nozes, o que todos os dias faço; aves de plumagem belíssima sobrevoam as árvores; nuvens, de cor azul-claro meio alaranjadas, mostram, narcisistas, sua beleza. Tudo desta manhã está envolto em uma névoa de profunda paz e tranquilidade.


Entro no chalé, e vou até o quarto onde, como imagem divinal, minh'amada repousa. Observo-a em seu sono, suspiros entrecortados e medos perceptíveis: deve estar a ter um sonho mau. Caminho até nossa cama, sento-me nela; com movimentos leves, acaricio o rosto de minha amada, como se pudesse fazê-la perceber: “Não temas, minha querida. Estou aqui, e sempre estarei.” Estranhamente, sua face demonstra maior serenidade. Pego-me, neste momento, a divagar: “Será a inconsciência dos sonhos tão externamente influenciável? O que, no fim das contas, são os sonhos?”


Deixo de lado as divagações quando percebo que ela despertara. Sorrio, e ela gentilmente retribui o sorriso. Beijo-lhe os lábios – quão doces! -, retiro-lhe da face uma madeixa de cabelos e digo-lhe, a novamente sorrir: “Bom dia, dorminhoca!” E
ela novamente me sorri, como se passássemos por um rito sagrado de todas nossas manhãs. Por Deus, como ela é-me especial! Como a amo!


Deito-me a seu lado - ela a olhar-me à altura dos olhos, eu a lhe fazer o mesmo -, com meu braço direito sobre seu corpo, ela com sua perna sobre o meu; É como se, nesta pequeníssima fração de tempo – oh, ele, à que tudo corrói! - confidenciássemos nossos mais íntimos segredos. Tudo envolto em um mistério o qual jamais poderá ser revelado às humanas almas...


(...)

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 01:09:00




O garoto sente-se deveras desolado:
À beira do esquecimento o lago,
Pesa, sobre seus ombros, enorme fardo;
Deixar de viver para salvar a quem ama?


Quê importa minha vida!, pensa ele. Quê!
Pode – com profunda tristeza, olhos marejados – ao fundo a ver:
Repousa o cadáver inerte na intensidade do tempo,
A aguardar, tão somente, o bem-amado para devolver-lhe o seu alento.


Passados momentos de reflexão
- O coração a palpitar de pura emoção -,
Ele, de braços abertos, costas para a face do rio tornadas,
Deixa-se, com imensa leveza, cair nas gélidas águas...


Cada vez mais fundo... Quase a alcançá-la...


Quando pode já tocar-lhe a pele, sem hesitar,
Beija-lhe os frios lábios, e a faz despertar;
Suas forças, neste momento, e todas suas lembranças
Desvanecem-se, como se feitas em nuvem de fumaça pelo vento dispersa...


Ele fenece – ela vive. Paradoxo de amor singular,
Para além dos tempos – por anos, séculos, eras! haverá de lembrar
E bradar o povo o seu nome: fora, na vida – tal qual em morte -,
Do amar o eterno amante sem termo!



Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 08:48:00




Meia-noite... O sino, funebremente, doze vezes soa.
No alto da torre mais alta de todas as torres
- Imagem assombrosa quando por baixa contemplada!,
Instrospecto em seus apaixonados devaneios, Tristonho ele está: sente-se deveras lúgubre...



“Deixara-me ela”, pensara ele, “e sem sequer um adeus...
Não amou-me! Senão, por todos os céus, o fim não teria sido;
Quando alguém ama outro alguém, o fim nunca há:
Pois, se houver, designa a morte da alma:
E inda assim nunca do coração e do Amor...”



Em passos lentos, síncronos, caminha ele até o da velha janela
O parapeito de madeira a desfazer-se. Com os cotovelos
Neste apoiados, solta um longo suspiro, os olhos a observarem
O vasto e longínqüo horizonte.



“Um dia, e ainda hoje, meus sonhos lá estão... Distantes,
Para além daquela linha, porém não mais a esperarem-me...
Se lá for, certamente hei-de os encontrar a todos mortos!

Como pode haver no mundo um cemitério de sonhos?

Eis a resposta: quando os sonhos são inatingíveis, impossíveis de se realizar...”



Densa a noite está. Corvos e corujas fazem-se ouvir do telhado;
A baterem as asas, com certa leveza, morcegos voam para cá e para lá;
Ele, o jovem apaixonado, amante de puro amor, inclina-se na janela mais agudamente:
Lágrimas começam a escorrer de seus olhos, e ele diz:



“Noite, Lua... Rogo-te para que a faças isto ouvir, em seus sonhos:”
- Entre soluços e respiração entrecortada ele o diz -

“Eu te amei tanto... Como pode ter sido?

Minha vida não possui sentido se nossos destinos são diversos;

Adeus, minh'amada, e lembras-te: amo-te para além das eras infindáveis, e nem as sombras do vale da morte poderão fazer-me deixar de amá-la.
Adeus, adeus!...”




Num momento derradeiro, ele, ao inclinar-se ainda mais! Joga-se...

Enquanto cai, o vento a acariciar-lhe a face, de modo que enxuga suas lágrimas,

Lhe dá a impressão de que está a voar... Sente-se livre.

Num baque quase surdo, atinge o solo. Está, sim, livre para sempre...




Pois, onde quer que esteja, o amor é tudo o que há...

{ Dark Love }

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 14:47:00


Não zombes de meu coração... Em tuas mãos, pequenino, frágil - como se feito de cristal -,
Ele de modo vivo lateja, ardente... O fazes palpitar, e ninguém mais!
Tu não és para mim algo senão o esplendôr dos dias de sol, do luar a reflectir-se no mar;
Não me és senão o soprar dos ventos norte que preenchem meus pulmões de vida,
E à minha mente de alegria inunda!

Não, não me deixes só – ao meu coração não despedaces! Pois, se tu te fores... Ele há-de adquirir
A mórbida qualidade do Ser negro, vazio, morto...

Sem sentido, inexistente para todos –

...e para todo o sempre.