Memories

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."

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Observava as estrelas. Sentia sua luz pulsante dentro dele; seu atraente – de uma forma não meramente atrativa, mas como força gravitacional ao inverso - cintilar, seus contornos quase invisíveis aos olhos desatentos, o simbolismo que representa para algumas pessoas; estas sensações faziam-se pulsar dentro de seu âmago em uma pequeníssima fração de segundo – segundo este que se estendia a assemelhar-se a toda uma era de período sem igual. Podia sentir o peso e, ao tempo mesmo, a intangível leveza das coisas.

Estava introspectivo, absorto em sua admiração às estrelas quando percebera no ambiente uma nova presença, diferente de todas que já houvesse sentido. Realmente sabia que não se tratava de uma presença comum, porquanto não se lembrasse de uma única vez em que alguém ou algo lhe houvesse retirado de sua não-percepção - ou seja, enquanto monologava com sua própria alma, nada se lhe fazia perceptível. Mesmo sem movimentar sua cabeça – estava ele deitado sobre um banco, os olhos vidrados na abóbada celeste -, podia-a quase ver. Sabia que era belíssima, estava convencido disto. Cá não se fala da beleza corporal, esta efemeridade mundana que destrói amores a convertê-los em paixão; que dá aos homens a egoísta capacidade de matarem-se uns aos outros; que já fora força motriz de sanguinária guerra; enfim, não, não é deste tipo de beleza que se fala – mas sim da íntima, do puro e verdadeiro encanto. E ele sentia-o: sua grandiosidade era espantosa. Uma simples presença física ou, enganara-se em pensá-lo – pois não é uma, mas a - simples presença física desta pessoa brilhava com maior intensidade do que as estrelas que há pouco ele muito admirava. Contudo, podia-o sentir também, ela estava agitada, um pouco desesperada – ela como mulher, não como presença - sentia o delicioso aroma de sua fragrância. Esta mulher intrigara-o de uma forma tal que nunca ser humano algum pudera fazê-lo. Sentia que ela diferente, que podia sentir tanto – senão mais, infinitamente mais – do que ele. Então, num singular momento em qual não houve a intenção de fazê-la espantar-se, porém fizera-o, lhe disse:

- Bailava com o vento enquanto eu a observava. Agora sinto o movimento enquanto me observas.

Sorrira gentilmente, como se a pedir desculpas pelo espanto que causara. Ela parecia pensar que ele não a havia percebido. Então lhe retribui o sorriso; os olhos dele brilham - um brilho o qual reflete a luz que dela emana. Calmamente, ele faz girar seu pescoço para podê-la observar. Como era bela! Sim, não apenas seu íntimo, todavia também seu corpo fazia-se como um desenho feito por uma mente divinamente inspirada. Os contornos de seu rosto, seus grandes e belos olhos, seus lábios lascivos – tudo nela o atraía. Porém que não se enganem os que me lêem! O que ele sentia estava para muito além da compreensão de qualquer um de nós. Ele a amava. Sentia-o, estava muito compreensível – e além da compreensão - para si. Permanecera a observá-la em silêncio – ela podia compreendê-lo, compreender sua alma e seu silêncio. Ele queria entregá-la sua alma, seu corpo – ser inteiramente seu. Cá, que novamente não se enganem: medo algum de fazê-lo ele possuía. Esperava apenas. Corrijo-me: sentia-a apenas. O tempo passara a inexistir. O céu, as estrelas fizeram-se descer a Terra para venerar a alma a qual ele amava – contudo por ela ser deveras especial. Todo o universo prostrava-se perante sua presença. Pelo menos todo o seu universo, o dele. Faziam-se audível no ambiente, sons líricos – harpas, violinos e pianos majestosamente versados – como se anjos os estivessem a tocar; a branda brisa noturna fazia esvoaçar os cabelos dela, e a cada imagem percebida seus olhos mais e mais brilhavam; esta mesma brisa espalhava ainda mais o agradabilíssimo aroma que dela provinha, qual ele já pensava não ser apenas um perfume, mas algo natural de si.

{...}

Lentamente, com movimentos delicados, ele levantara-se e se fizera sentar no banco. Continuava a observá-la. Então, levantara-se e, a passos síncronos, lentamente caminhara até ela. Estavam agora muito próximos um do outro. Os olhos dele brilhavam com maior intensidade. Com um espanto por parte dela – novamente percebera-o -, ele, seus lábios próximos ao ouvido dela, sussurra-lhe:

- Danças comigo?

Podia sentir sua presença mais serena, sua agitação e desespero a esvaírem-se de si. Ela, tendo-lhe feito o mesmo – os lábios próximos ao ouvido dele - e, também, com um pequeno espanto despercebido e agradável por parte dele - -, sussurra-lhe:

- Claro.

Ela sorrira. Ele também. Então, abraçaram-se – este momento perdurará na eternidade. Cristalinas e rasas lágrimas marejavam aos olhos de ambos. Ele, a pensar: “é ela”. Ela, a pensar: “é ele”. Dançavam ao luar, ao som de uma romântica majestosa melodia. Os silfos pareciam acompanhar-lhes: era este um momento de encanto indescritível. Ele disse-lhe então, seus olhos à altura dos dela:

- Quero estar contigo por todo o tempo que não pode ser contado. Eu sinto que a amo. Não, não... Mais que isto, sei que a amo e que és a pessoa por quem sempre estive a espera. Minha alma já está presa a tua, ela sempre estivera e, por isto, neste momento, é tão livre quanto o significado maior e mais íntimo da palavra Liberdade, liberta de si mesma. Ficas comigo?

Ele absolutamente não sentia medo de a resposta ser negativa. Sabia que, ainda que o fosse, noite como esta jamais haveria outra e alma como aquela ele nunca mais tornaria a encontrar. Ela era a alma, a única alma que podia fazer a sua completa. E, fosse como fosse, estes poucos momentos terão valido toda a sua existência na perpetuidade. Sentir-se-ia eternamente grato.

{...}

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 00:20:00

Em todas as noites, quando ia passear ao parque, lá estava ela sentada debaixo do enorme carvalho. Pouca importância havia se as nuvens parecessem querer derramar lágrimas, ou se tempestades se quisessem aproximar – ela estava sempre lá. Em meus pensamentos e admiração, um singular mistério fazia-me inquirir a mim mesmo sobre o porquê disto. Pude perceber que sempre observava as pessoas, ou então escutava os grilos a cantar ou, ainda, o sussurrar das folhas quando o vento sopra. Gostava, também, de deitar-se de costas na macia grama e olhar para as estrelas. Ficava a assim admirá-las por muitos minutos. Mas isto é algo que vim a descobrir somente mais tarde, depois de conhecermo-nos.


Sentia-me encantado e fascinado. Sentia que ela podia sentir. Sabeis? – é algo complexo de se ter a explicar. Um sentimento enobrecido pela pureza da alma. Sentir verdadeiramente a íntima essência de todas as coisas. Muitas vezes ela me fazia perceber o quão bela pode uma existência ser, se a ela for dado o cabível e sensato destino. Sentava-me ao seu lado enquanto ela admirava, por exemplo, as estrelas: podia perceber em seus olhos um brilho diferente de todos os que eu já havia visto nos olhos de outras pessoas. Ela sentia a verdadeira natureza das estrelas. Podia - como eu muitas vezes quis junto dela partilhar deste sentimento – quase tocá-las; mais que isto, sentia-se parte delas.


Lembro-me bem, com incrível profundidade de particularidades, da primeira vez em que fui ter-lhe. Meu coração palpitava em êxtase bucólico, minhas mãos tremiam, meus pensamentos desenrolavam-se a emaranharem-se ainda mais; meus pés moviam meu corpo quase que automaticamente, pois, sinto vergonha em dizê-lo, minha coragem era pouca. Em verdade, se passava é que eu já a sentia amar. Compreendei-me, não era uma simples paixão, nem um amor passageiro – daquele existente entre amigos que, após a universidade, separam-se para jamais se tornarem a ver. Não. Meu sentimento era diferente, quase palpável. Latente em meu peito, quase se externava para fora de mim e tomava forma própria. Se o fizesse, gosto de imaginar, moldar-se-ia à forma de luz. Pois é assim que me sentia próximo a ela. Iluminado. Possuído por uma alegria, uma felicidade que não podem ser compreendidas em qualquer palavra de todos os idiomas. Podia até extrair de mim o melhor, e o queria fazer apenas para e por ela. Eu a amava.

Era uma noite em que as nuvens estavam coloridas pela claridade da Lua cheia; casais passeavam com as mãos juntas pelo parque; pequenos animais notívagos aproximavam-se do velho carvalho; havia uma branda brisa, com momentos de agitação. Ela, minha adorada, adornava-se com um vestido negro, suas longas madeixas igualmente negras davam-lhe um ar de meiguice e, ao mesmo tempo, mistério e sensualismo. Com a coragem – ou devo dizer a falta dela? – me aproximei e timidamente disse-lhe:


- Olá... Posso sentar-me ao teu lado?


Ela sorriu. Se houvesse algum resquício de dúvida sobre meu sentimento por ela, teria sido inteiramente sanado neste momento.


- Sim, claro que podes.


Então eu me sentei. Sentia exalar de si um perfume doce e delicado – era muito agradável. Ela era ainda mais bela quando observada de mais perto. Como percebesse que nada eu dissesse, disse-me:


- É uma bela noite, não? As estrelas nos sorriem...


Seus olhos possuíam um brilho natural que me encantava como encanta aos homens dos mares o canto das sereias.


- Sim, certamente... Deveras bela.


Sentia-me bobo próximo a ela.


- Que lhe traz cá, bom moço? – indagou-me, delicada e gentilmente.


Sentia minha garganta seca, minhas mãos tremeluzentes – efeito único do nervosismo. Contudo, ao mesmo tempo em que me sentia nervoso, o simples fato de sua presença acalmava-me de uma maneira tal que, se não fosse dizer-lhe as palavras seguintes, sentir-me-ia suave mesmo no dia do apocalíptico juízo final.


- Bem, é que... Hum... No fim, não é algo importante. Deixa estar.


Desfaleci. Sentia meus sonhos distantes, a baterem suas asas para cada vez mais longe... Minha cobardia me havia vencido.


- Não precisas temer tuas palavras... Embora possa parecer, não sou má. Liberta a tua alma sem receios.


Pouco ela me compreendia. Mas, passado algum tempo depois deste dia, percebi que ela fazia-o como ninguém. Disse-lhe, por fim, meus medos exorcizados por sua meiga voz:


- Bem, a verdade é que... Oh, eu a amo. Sim, não me conheces, sei que sou precipitado, mas a verdade, a única e pura verdade é que eu a amo. Meu coração tem-me incitado há dias para que eu o viesse abrir para a tua alma. Eu simplesmente sentia que devia abrir-me contigo – ainda que te espantes, e não possas compreender – eu compreenderei. Sequer o teu nome eu sei, como poderias compreender-me tu? Sinto-me um tolo...


- Oh, não te sintas. Gosto de sonhar, sabes? Sonho até mesmo acordada, o tempo todo. Minha vida, a minha verdadeira vida, é um sonho. Não caibo à realidade. E, num destes sonhos, lhe conheci. Sim, eu o conheço! Tu aparecias-me exatamente como fizeste agora, e declaravas o teu amor para mim. Eu sentia o mesmo que ti, e uma profunda paz de espírito possuía-nos... Então, nos abraçávamos profundamente, por longos minutos. Tu dizias amar-me, eu dizia amar-te. E é por isto que todas as noites espero-te cá, era noite em meu sonho.


Um espanto indescritível e doce possuíra-me neste momento. Pairava um silêncio que chegava a pesar... Foi quando, com olhos marejados de cristalinas lágrimas, a brilharem de vistosa alegria, ela disse-me:


- Eu te amo, Will.


Eu correspondi-lhe o amor, então nos abraçamos. O vento acariciava-nos a face com sua gentil brisa, a Lua brilhava mais intensamente; porém, tudo ao redor, neste momento, deixara de existir. Éramos ela e eu a pairar num suspenso chamado Eternidade. Eu a amei, amo e amarei mesmo para além do fim das eras. Seu nome, uma bênção... Uma querida princesa, habitante do íntimo mais belo de todos. Moramos na mais alta torre, no mais profundo dos oceanos.


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Dos suaves campos das mais vermelhas rosas, a suave brisa de teu suspirar veio tocar-me o coração;
No mais singelo sorriso, no mais simples - e ao mesmo tempo profundo – proferir, no mais belo olhar
- há o amor. Em tudo existe; intenso no olhar, a exaltar-se em cada sussurro, em cada silêncio...
Este mesmo silêncio que nos faz a ausência da presença perceber, e a esta presença docemente – e, no entanto com desmedida veemência – desejar; um singular silêncio, qual o podem compreender apenas os amantes.


{...}


O amor, o que é?
- Sentir-se livre mesmo a estar-se preso; sentir-se preso mesmo se livre...
É ter asas, e as usar para muito distante, além, para além de a realidade voar...
- E, contudo tornar este imaginar a realidade mais verdadeira.
Sentir em conjunto; doar-se, entregar-se de corpo e alma;
Ser a razão primária de todo o sentimento: dos mais nobres aos menos. E, qual é o sentimento não nobre quando se há amor? Nenhum! Pois até mesmo a tristeza pinta-se de diferentes cores, e não mais de apenas preto e cinza – esta adquire tonalidades diversas, infindas. Sentir-se triste é amar, quando a ansiedade é o mais puro e singelo anseio de se estar com a pessoa amada.
O amor é ser abraçado e desejar jamais se libertar destes braços; mais que isto, é sentir abraçada a própria alma - enlaçada pela alma de outrem, do bem-amado ou da bem-amada.

Infindas páginas sobre o amor escrever poder-se-ia, mas ruge com sua própria voz; ele, por si só, existe e subsiste; é, essencialmente, a essência de si e de as cousas todas.


{...}

Diálogo entre razão e emoção

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Quando se desdobra o horizonte em negros tons, vez por outra sendo o firmamento entrecortado por estrelas cadentes, e o negrume da noite envolve a tudo em seu obscuro manto de impenetráveis mistérios; quando corujas permitem-se ver e observam, com seus grandes olhos amarelos, como os “espectros fixos”, as pessoas passarem pela erma rua próxima ao cemitério – e, vendo-as, fazem como se falassem uma à outra em sua linguagem apenas a si mesmas concebível; quando os lobos saem à caça, junto aos demais animais noctívagos – e, encontrando sua presa, destroem-na materialmente e a devoram; quando a noite, enfim, grita com todo seu furor, e eu estou enclausurado neste quarto pouco iluminado, a apreciar o som de uma boa música e sentir o agradável perfume de jasmins de incensos provindo – embora estas propriedades sejam qualidades razoáveis de uma boa noite, o meu íntimo hermeticamente encerra-se. Pego-me, num momento ímpar, introspecto: minh’alma fala-me através dos silêncios. Ela traduz-me o que, em vão, tento compreender de meu coração. Sua metafísica é surpreendente.

Indaga a razão: amar?
Ao que responde o coração, ferozmente: amar, sim! Amar para além de todo o sentimento, do próprio sentir e além de ti mesma, logos.

“Não sejas tolo, pobre sentimental! Sem mim tu podes ser tanto como uma pequena órfã ao mundo abandonada, quanto um abastado cego e vil; mais que isto, tu podes destruir-se.”

“E, no entanto, sem mim, tu não passas de frialdade. Teu existir pode ser belo, ao mesmo tempo que pode ser a razão da decadência: percebes? Tu és antagônica: podes ser o motivo de teu próprio declínio. Mal me entendes, porém. Somos forças complementares, necessárias uma a outra. Sem ti, sou o que disseste. Sem mim, és o que disse. Se unirmo-nos, então desta união nascerá o mais singular, puro e verdadeiro amor.”

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Domingo é o dia em qual costumo ir deitar-me à sombra das magnas árvores centenárias, no cemitério. Levo, algumas vezes, algum livro que esteja a ler na época; hoje, por exemplo, haveria de ser o “Os filhos do capitão Grant”, de Júlio Verne. Ela adorava seus livros. Esta manhã faz-se deveras nublada, como se pudéssemos apreender algo de melancólico nas nuvens; é como se estivessem chorosas por algo, algum singular segredo que é apenas a elas cabível.

Pego meu Júlio Verne e, mesmo com a ameaça de chuva, parto rumo ao cemitério. É preciso cumprir o meu rito; em verdade, é mais que isto – envolve uma história – a história que me deu estas asas, quais me fazem voar quando fecho os meus olhos. Quem a ela pudesse ouvir, no início, sorriria; no entanto, com seu aprofundamento e desfecho, copiosamente iria chorar. É um aviso, já para o dia que – se este houver – eu a vos contar, ou de pessoa outra a puderem ouvir.

O cemitério é amplo; adoro caminhar por entre seus floridos jardins de flores tão perfumadas e belas. Lembro-me, com um tímido sorriso a se querer esconder nos lábios, de quando caminhávamos juntos, as mãos entrelaçadas uma à outra. Ah! Quando ela sorria-me, ah... Carece de explicações. Se me pudessem observar quando penso nela, veríeis como me torno um bobo aos vossos olhos. Ela extrai o melhor de mim, faz-me querer ser grande, ser o melhor... Para ela. Ensinou-me o que é a vida, como se vive de verdade... Toda a fé, esperança, o modo como posso amar, devo-lhe inteiramente. Sou seu maior e eterno admirador.

O vento faz balançar os galhos, as folhas nas árvores várias. Flores exalam seu delicioso perfume; abelhas, esquilos, corujas – todos os animais, graciosas criações de uma mente repleta de amor, vão de um lado para o outro, mas não como se estivessem preocupados. As abelhas colhem seu néctar; os esquilos procuram por suas nozes, e, quando as encontram, é quase possível ver aos seus olhinhos brilharem. Corujas observam-me com grandes olhos, como se confidenciassem à minha alma e ao meu inconsciente, segredos que meu consciente não pode conhecer – ou, antes, não consegue captar. Estas são criaturas fascinantes.

Após algum tempo de caminhada, as lembranças dela a sempre me virem à mente, sento-me recostado a um túmulo de pedras talhadas, desenhado ao modo de ser o ataúde a guardar um anjo. Este é o túmulo de minha eterna amada. Fecho os meus olhos. Neste momento, é como se hinos de louvores, músicas sacras se fizessem ouvir; são belíssimos cânticos divinos... O vento parece acariciar-me o rosto, e eu posso ver-nos neste mesmo lugar, quando, já sabendo de sua partida, choramos e abraçamo-nos uma das últimas vezes – porém a mais intensa delas; foi neste momento que dissemos um ao outro, com a maior pureza e sinceridade em nossos corações, o quanto amamo-nos – e jamais deixaremos de amar. Lágrimas escorrem-se de meus olhos fechados, sinto-as descerem até meus lábios e neles se desmancharem. Sentir o vento é como sentir suas mãos em meu rosto; o meu coração se aquece, e é então que de meus olhos verte a mais íntima e infinda alegria em forma líquida condensada; sorrio, e posso sentir como se ela também me sorrisse. Digo, ainda que, para aquele que mo pudesse ver dizer, parecesse aos ventos, o quanto a amo; e ouço, dentro de mim, ela dizer-me o mesmo. Nosso amor é justamente como o vento: embora não se possa vê-lo, nós sempre o sentiremos.