Memories

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 00:26:00


O vento acaricia-me a face com seus gélidos dedos; eu sinto como se fosse o frio toque da morte que se espreita... Desejo que seja. Desde que ela partira para onde eu jamais poderei segui-la, os meus dias tornaram-se cinzentos como o céu – que, a propósito, parece estar a acompanhar o estado de minha alma: agitada, porém sem vida – nublada. Sim, não há melhor maneira de expressá-lo: a minh’alma está nublada, carregada de lágrimas – as tristes gotas da doce chuva -, de tempestades, barulho, agitação! Pois, no momento mesmo em que me pego desesperado por sua ausência, um grave silêncio e uma ancestral quietude abatem-se sobre mim, como se nada fosse mais que o próprio silêncio, o ouvir tão somente os batimentos do meu coração descompassado, e nada, nada mais. É nestes momentos que sinto uma forma de libertação aproximar-se sorrateiramente... O negro fantasma no qual se encerra tudo o que um dia fora possuidor da ardente chama da vida. E, afinal, o que a vida é senão uma vela acesa, cada vez menor, pronta a extinguir-se para sempre do mundo visual? Sou, por vezes, uma verdadeira incógnita: mas uma tão facilmente decifrável! No momento mesmo em que quero sentir pulsar em cada célula de meu corpo a vida, anseio sua fatal e mais contraditória percepção: a morte. Penso que eu exista nas entrelinhas de ambas... Mas, das duas a mais forte é a qual tem seu anjo mais próximo de mim, como esta obscura criatura que estende suas negras asas sobre todo meu corpo neste momento, imóvel, estática ao meu lado, com seus olhos – quais se assemelham a profundos lagos escuros em quais desejamos adentrar, mesmo sabendo da certeza da morte – horrendamente fitos em mim.

Memórias

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Se aos meus olhos fecho, sou logo para o imenso reino das lembranças transportado. Sinto roçar-me os lábios a névoa dos beijos d’amor outrora – tão apaixonadamente! – trocados. A simples lembrança de suas mãos a resvalarem por meu rosto causa-me o mais doce dos calafrios, uma indescritível sensação de ser elevado às alturas do mais sublime paraíso. Sua voz, qual em minha mente ecoa como o majestoso brado de um anjo, ah! a bucólica brandura de sua voz faz encherem-se de lágrimas os olhos meus. Nos pensamentos baila a imagem dos teus sorrisos, dos teus carinhosos olhares... Pelos deuses, haverá na existência de toda a história humana mais bela mulher do que esta?


Se bem que, a bem ponderar, sua perfeição parece ultrapassar a qualquer tola delimitação humana... Sua beleza – e cá não se fala de efêmera matéria orgânica – faria o mais cobarde dos homens tornar-se um Hércules, e ao mais mefistofélico e cruel dos titãs derrotar sem qualquer vestígio de desistência: resistiria com a convicção do triunfo. Sim, ela representa a vitória contra os impropérios da própria vida – mas, mais que isto – infinitamente mais - -, ela representa a capacidade de amar incondicionalmente; diria, em verdade, que ela é o amor: em si encerram-se todas as conjugações do verbo amar, de todos os verbos. Princípio causal, o Caos... Geratriz da única verdadeira vida que eu pude, um dia - tão intensamente! –, sentir.