Memories

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."

Para minha filha Mayara:

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 20:44:00



Uma moça eu conheci que do real abstém-se para no vasto universo do sonhar adentrar;
Jovial, alegre e de presença extasiante,
Faz-me de, dum Tchaikovsky a suave melodia, sempiterno amante:
Romeu e Julieta no esquife reviram-se à de sua sensibilidade o vibrar,

Em notas que uma monocromática escala elas formam.
Desta agradável moça tornei-me amigo,
E desde então em meu coração a carrego comigo;
Por vezes, seus olhos magoados se tornam

- Sempre belos, no entanto!
E se se permite desfalecer em lúgubre pranto,
Desejo eu num abraço devolver-lhe do júbilo o encanto.

{...}

Dança ao luar, abraçada aos ventos,
Sente do amar os ternos acalentos;
Em seu peito habita os sentimentos mais meigamente opulentos.

E pelos campos do imaginar,
Solitária – minto: pela vida embalada -, vaga...
Passa suas delicadas mãos pelas mais belas flores...

Dos mais suaves aromas constitui-se sua essência; amar!
Sentimento este que cura a mais cruenta chaga...
Envolve-se ela na mais bela dedicação de todos os amores.

Um místico ser de Luz, tradução da esperança.


Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 16:39:00


De estender-se no celeste chão, da escuridão o manto, inicia-se o rito.

Contudo regozija-se ainda, com a da Luz e Treva a batalha, o firmamento:
De tons não claros, nem escuros tinge-se. Nem mesmo de Morfeu o grito
Deu ao intenso dia um ferino acalento.

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Pego-me no de carvalhos talhado o parapeito da velha janela;
Em meio a suspiros, e ao amor entoadas canções,
Brilham as estrelas com maior intensidade; a Lua, dela
- antes, de seu transbordante mistério – preenchem-se dos poetas os corações;
Corujas permitem-se ser vistas, imponentes – seus grandes olhos ao infinito a fitar...
Do rio de fantasia as cristalinas lágrimas provém o som
Do vazio a ser preenchido pela virtude. Um rouxinol a cantar
Deleita-nos a alma – que imenso dom!
E absolutamente tudo neste momento é alegria:
Da pequenina gota de orvalho ao céu magno, bucólico,
Dimana a força das tempestades; a encantar-nos, Sofia
Líricos cânticos sussurra, quais a nossos ouvidos chegam através do eólico...

( ... )

Derradeiro Momento

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 00:04:00



De nosso jardim vem até o quarto um denso aroma de flores variadas - este mesmo aroma que incontáveis vezes muito nos felicitou enquanto deliciávamos um ao outro com nossos poemas de amor, faz-nos neste momento de uma tristeza tal que nosso coração chora e nossa alma queda-se em intenso silêncio. Não se faz necessário que seja uma única palavra dita para que percebamos ambos que assim nos sentimos. Estou sentado à beira de nossa cama – ela, deitada debaixo de espessos cobertores -, a segurar-lhe a mão – sua pele delicadamente macia, como sempre o fora – enquanto leio para si algumas odes dedicadas. Ela ouve atentamente, seus belos olhos com a mesma expressão de ternura que sempre tivera. Ela é, em verdade, uma criatura amável. Adoram-lhe todos: vêm-na visitar muitos nossos amigos a vários horários do dia. Bem... Terminada a leitura, seus olhos marejam-se e também os meus: sentimo-nos ambos profundamente sensíveis. Estamo-lo realmente – quero dizer, mais do que habitualmente somos. Passamos longos minutos a olharmo-nos a altura dos olhos, como se confidenciássemos um ao outro algo que nunca d’antes, em todo este tempo, havíamo-lo feito.


{...}


Quando o velho relógio ao silêncio quebrara a badalar dezoito intensas vezes, percebo seu olhar a fitar o vazio – ela sente o peso do tempo. Está distante, como que a divagar sobre tudo o que se passa. Encontra-se aberta a janela e, do lado de fora – ouvimos -, cantam os pássaros canções mais tristes; o vento às folhas das árvores sussurra, e estas – podemos também ver, pois a cortina fora retirada de modo ao quarto adentre mais ar e ele possa estar mais arejado – dançam em movimentos suaves, porém profundamente melancólicos; as nuvens estão escuras, carregadas de um Sentir muitíssimo triste – carregadas com as lágrimas de eternos amantes; o Sol esconde-se por detrás delas, sem deixar, contudo, de lançar ao parapeito de nossa janela – local de sonhos, lembranças... De muitos de nossos íntimos devaneios - um pequenino feixe de luz. Intensificara-se no ambiente o aroma das flores. Um aroma que, sabemo-lo, ela nunca mais tornará a sentir. Minha Amie, minha querida Amie, está a morrer.


{...}