Memories

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."

Published by 「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 under on 00:32:00
Observava as estrelas. Sentia sua luz pulsante dentro dele; seu atraente – de uma forma não meramente atrativa, mas como força gravitacional ao inverso - cintilar, seus contornos quase invisíveis aos olhos desatentos, o simbolismo que representa para algumas pessoas; estas sensações faziam-se pulsar dentro de seu âmago em uma pequeníssima fração de segundo – segundo este que se estendia a assemelhar-se a toda uma era de período sem igual. Podia sentir o peso e, ao tempo mesmo, a intangível leveza das coisas.

Estava introspectivo, absorto em sua admiração às estrelas quando percebera no ambiente uma nova presença, diferente de todas que já houvesse sentido. Realmente sabia que não se tratava de uma presença comum, porquanto não se lembrasse de uma única vez em que alguém ou algo lhe houvesse retirado de sua não-percepção - ou seja, enquanto monologava com sua própria alma, nada se lhe fazia perceptível. Mesmo sem movimentar sua cabeça – estava ele deitado sobre um banco, os olhos vidrados na abóbada celeste -, podia-a quase ver. Sabia que era belíssima, estava convencido disto. Cá não se fala da beleza corporal, esta efemeridade mundana que destrói amores a convertê-los em paixão; que dá aos homens a egoísta capacidade de matarem-se uns aos outros; que já fora força motriz de sanguinária guerra; enfim, não, não é deste tipo de beleza que se fala – mas sim da íntima, do puro e verdadeiro encanto. E ele sentia-o: sua grandiosidade era espantosa. Uma simples presença física ou, enganara-se em pensá-lo – pois não é uma, mas a - simples presença física desta pessoa brilhava com maior intensidade do que as estrelas que há pouco ele muito admirava. Contudo, podia-o sentir também, ela estava agitada, um pouco desesperada – ela como mulher, não como presença - sentia o delicioso aroma de sua fragrância. Esta mulher intrigara-o de uma forma tal que nunca ser humano algum pudera fazê-lo. Sentia que ela diferente, que podia sentir tanto – senão mais, infinitamente mais – do que ele. Então, num singular momento em qual não houve a intenção de fazê-la espantar-se, porém fizera-o, lhe disse:

- Bailava com o vento enquanto eu a observava. Agora sinto o movimento enquanto me observas.

Sorrira gentilmente, como se a pedir desculpas pelo espanto que causara. Ela parecia pensar que ele não a havia percebido. Então lhe retribui o sorriso; os olhos dele brilham - um brilho o qual reflete a luz que dela emana. Calmamente, ele faz girar seu pescoço para podê-la observar. Como era bela! Sim, não apenas seu íntimo, todavia também seu corpo fazia-se como um desenho feito por uma mente divinamente inspirada. Os contornos de seu rosto, seus grandes e belos olhos, seus lábios lascivos – tudo nela o atraía. Porém que não se enganem os que me lêem! O que ele sentia estava para muito além da compreensão de qualquer um de nós. Ele a amava. Sentia-o, estava muito compreensível – e além da compreensão - para si. Permanecera a observá-la em silêncio – ela podia compreendê-lo, compreender sua alma e seu silêncio. Ele queria entregá-la sua alma, seu corpo – ser inteiramente seu. Cá, que novamente não se enganem: medo algum de fazê-lo ele possuía. Esperava apenas. Corrijo-me: sentia-a apenas. O tempo passara a inexistir. O céu, as estrelas fizeram-se descer a Terra para venerar a alma a qual ele amava – contudo por ela ser deveras especial. Todo o universo prostrava-se perante sua presença. Pelo menos todo o seu universo, o dele. Faziam-se audível no ambiente, sons líricos – harpas, violinos e pianos majestosamente versados – como se anjos os estivessem a tocar; a branda brisa noturna fazia esvoaçar os cabelos dela, e a cada imagem percebida seus olhos mais e mais brilhavam; esta mesma brisa espalhava ainda mais o agradabilíssimo aroma que dela provinha, qual ele já pensava não ser apenas um perfume, mas algo natural de si.

{...}

Lentamente, com movimentos delicados, ele levantara-se e se fizera sentar no banco. Continuava a observá-la. Então, levantara-se e, a passos síncronos, lentamente caminhara até ela. Estavam agora muito próximos um do outro. Os olhos dele brilhavam com maior intensidade. Com um espanto por parte dela – novamente percebera-o -, ele, seus lábios próximos ao ouvido dela, sussurra-lhe:

- Danças comigo?

Podia sentir sua presença mais serena, sua agitação e desespero a esvaírem-se de si. Ela, tendo-lhe feito o mesmo – os lábios próximos ao ouvido dele - e, também, com um pequeno espanto despercebido e agradável por parte dele - -, sussurra-lhe:

- Claro.

Ela sorrira. Ele também. Então, abraçaram-se – este momento perdurará na eternidade. Cristalinas e rasas lágrimas marejavam aos olhos de ambos. Ele, a pensar: “é ela”. Ela, a pensar: “é ele”. Dançavam ao luar, ao som de uma romântica majestosa melodia. Os silfos pareciam acompanhar-lhes: era este um momento de encanto indescritível. Ele disse-lhe então, seus olhos à altura dos dela:

- Quero estar contigo por todo o tempo que não pode ser contado. Eu sinto que a amo. Não, não... Mais que isto, sei que a amo e que és a pessoa por quem sempre estive a espera. Minha alma já está presa a tua, ela sempre estivera e, por isto, neste momento, é tão livre quanto o significado maior e mais íntimo da palavra Liberdade, liberta de si mesma. Ficas comigo?

Ele absolutamente não sentia medo de a resposta ser negativa. Sabia que, ainda que o fosse, noite como esta jamais haveria outra e alma como aquela ele nunca mais tornaria a encontrar. Ela era a alma, a única alma que podia fazer a sua completa. E, fosse como fosse, estes poucos momentos terão valido toda a sua existência na perpetuidade. Sentir-se-ia eternamente grato.

{...}

7 ϻĭņđʼƨ:

「ϻȝƚɋɣαɦȡ 」 disse... @ 24 de julho de 2008 às 00:49

Para aquele a quem interessar e quiser a este texto bem compreender, deve-se primeiramente ser feita a leitura deste outro, muitíssimo belo:

A Torre - Primeira Parte [por Lia Oteluma, my Dear]

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[ ... ]

Anónimo disse... @ 24 de julho de 2008 às 13:00

Ah...

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Adorable disse... @ 24 de julho de 2008 às 19:29
Este comentário foi removido pelo autor.
Adorable disse... @ 24 de julho de 2008 às 19:30
Este comentário foi removido pelo autor.
Adorable disse... @ 24 de julho de 2008 às 19:31

Olá! Desculpe intrometer-me assim, mas é que o vi nos comentários da Lia e tive que vir aqui dar uma olhada. {Sou um tanto curioso}. Acontece que me apaixonei pelos seus ecritos.Sim, sim,Lia já tinha me dito sobre, mas são realmente esplêndidos. Sinceramente, tem um talento e tanto. É um prazer imenso lê-lo. Nunca deixe de escrever, senão o mundo irá empobrecer. Na verdade, mt me alegra perceber que existem escritores assim hoje em dia, sabe? Estamos muito ligados em crônicas e esquecemos de escritos maiores, maiores que nós.
Ah, prazer, Vincent.

PS: Se vc não cuidar bem dela eu acabo com vc. Mauahahaha. Sem cerimônias.

Anónimo disse... @ 31 de julho de 2008 às 18:14

Tentei comentar um tempo atrás mas a minha relação com Mozilla anda difícil, pensei até em divórcio ¬¬
Queria dizer que o último parágrafo fechou o texto com chave de ouro, é sublime. O modo como ele valorizou aquele momento como único, tento valido a pena não importando o que viria dali pra frente é tão... tão... "Carpe Diem"!
Parabéns pelos belos textos!

;*

Ana disse... @ 2 de agosto de 2008 às 23:57

sou a maior e mais pura fã de seus textos, mano. (L)
são inspiradores e românticos além do normal *-*'

amo-te (L)

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